22 maio 2010

Caros amigos,

Foi-me pedido que, finalmente, partilhasse convosco um pouco do que vivi na que foi a minha primeira viagem ao Brasil (Espero que primeira de muitas!), o meu primeiro contacto com este país imenso e repleto de diversidade e, principalmente, um pouco da intensidade que experienciei durante o convívio com os indios Pataxó, Pataxó hã-hã-hãe e Tupinambá, ao longo dos dias em que me foi concedido o privilégio de participar na Iª etapa do LICEEI (Licenciatura Intercultural em Educação Escolar Indígena).

Não é uma tarefa fácil! Esta foi uma viagem deveras marcante para mim, um verdadeiro recomeço. Por isso começo esta partilha com uma frase que ouvi há pouco: “Não há fins, apenas novos começos!”.

Quando cheguei ao Brasil, comecei a viver um intenso despertar de sentidos e emoções. Esta foi, sem dúvida, uma aventura de cheiros e sabores, cores e muito amor. Encontrei, de facto, um mundo novo e tentei senti-lo o melhor que pude. Provei pamonha, milho cozido, jabuticaba, ingá; cheirei e provei folhas de alfarrobeira; cheirei o mato em S. Roque... As sensações estavam à flor da pele, tudo era intensamente vivenciado e absorvido.

Com a chegada a Cumuruxatiba (local onse se realizou esta etapa da licenciatura) pude perceber melhor o que é o LICEEI, quais os seus objectivos e quem o constitui.

Assim, o LICEEI é, segundo a minha interpretação dos actos vividos e presenciados, uma iniciativa que pretende valorizar a cultura dos povos locais, dos povos indígenas, para que se integrem sem perder as suas raízes, dando-lhes ferramentas para propagar o desenvolvimento dessas raízes junto das crianças que ensinam, impondo-as ao mundo através do respeito, da solidariedade e da cooperação (Ubiratan D’Ambrósio, 2002). Objectivo difícil de alcançar quando se vive numa luta constante contra a perseguição das elites do país.

Foi, também, neste local, que pude viver e começar a ter uma ideia do que é Educação Intercultural e Etnomatemática. Não encontrei estes conceitos em formulações teóricas ou palestras, mas sim em actos vividos, em situações que presenciei. Por exemplo, deparei-me com crianças pequenas e bebés de colo presentes nas aulas e na execução dos trabalhos. Devo confessar que de ínicio me causou uma certa estranheza, mas logo percebi que essa era a beleza deste curso. A necessidade de ir ao encontro das necessidades dos alunos, de adaptar o meio às pessoas e assim construir o futuro em conjunto, em cooperação e de uma forma solidária.

Esta licenciatura é, para mim, a prova de que “a utopia” que nos foi apresentada por Ubiratan D’Ambrósio na vídeo conferência que ocorreu no dia 27 de Fevereiro é possível, é concretizável. Não é fácil, mas pode ser alcançada!

Também, o LICEEI está numa fase inicial de construção e organização, os obstáculos serão, certamente, imensos. No entanto, a força que os move, o sentimento e a luta que os unem permitirão que vençam quaisquer obstáculos. É esta postura etnomatemática que possibilitou que as aulas de Etnomatemática tenham sido vividas com avidez, bem como a produção de trabalhos extremamente interessantes e divertidos, realizados num curto espaço de tempo, deixando de lado a vergonha. É com esta postura que temos muito que aprender!

Tenho muito mais para partilhar, mas penso ser o momento de parar...


Até breve!

24 abril 2010

Cumprir uma promessa ...

A propósito de cumprir promessas, em vésperas do 25 de Abril, uma visita a uma das escolas com que trabalho, levou a escrever o seguinte:

http://aprender-tic-educaoparaapaz.blogspot.com/2010/04/no-que-da-uma-surpresa.html

Um grande abraço para tod@s e que continuemos neste labor pelas promessas que é preciso fazer cumprir!

21 abril 2010

16 abril 2010

Ser e Estar em Pataxó, Pataxó Hãhãhãe e Tupinambá

Partilhar esta experiência aqui no blog trata-se de mobilizar conhecimentos e sentimentos vividos em Curumuxatiba... uma tarefa da qual me sinto imensamente alegre
por fazer mas, devo confessar, que por mais que elabore sinto que jamais poderei partilhar a intensidade do que vivi.
Amigos do GEPEm Pt, foram 8 dias de emoção... de aprendizagem... de interação! Estive no
extremo sul da Bahia - estado do nordeste brasileiro, num vilarejo chamado Cumuruxatiba, praiano e reservado as palmeiras e as baleias Jubarte, e sito na reserva do Parque Nacional do Monte Pascoal. Sim... isso mesmo... exatamente o lugar avistado de longe por Cabral, ou quiça escolhido para ser dito o primeiro lugar a ser avistado. Caso tenha sido uma escolha... ao chegar em Cumuru sabe-se que esta foi de muito bom gosto. Caso tenha sido acaso... ulálá... que espetáculo!
Mesmo depois de tantos anos, e com um começo de opressão e dominação (reconhecido como actos normais nos tempos dos grandes descobrimentos!) devo-lhe dizer que há muito tempo não me sentia tão bem acolhida. Desde minha ida ao Parque Nacional do Xingu (onde me lembro de ter sentido uma enorme alegria em chegar junto aos Mebemgokrê, Panará e Tapayuna) que não vivia o que habita no meu mais profundo eu... a tranquilidade de ser o que sou, de estar onde estou (e contradizendo minha querida Rita Lee... naquela hora não faltava mais nada!).
Cumuru é um lugar Pataxó: respira-se o movimento de etnogênese e adequa-se às necessidades de sobrevivência do UNO (eu, noutro e natureza). Neste lugar fui trabalhar como
professora de etnomatemática a convite da Universidade Estadual da Bahia por meio da minha actual amiga Maria Geovanda Batista - coordenadora do LICEEI (Licenciatura Intercultural de Educação Escolar Indígena), no módulo Introdução aos Conceitos Matemáticos. Que desafio! Que prenda! Pensei muito em cada um de vocês em Cumuru e nos amigos da Comunidade Fronteiras Urbanas (ichhh... devo concordar com minha querida Rita Lee... logo após o impacto da chegada: "agora só falta o GEPEm PT!").

Introdução aos Conceitos Matemáticos começou com nossa introdução - um bate papo rodeando nossos desejos, nossas expectativas e nossas necessidades. Foram 9 horas de aula no primeiro dia.... domingo dia 08 de Março! Que aula! Um movimento de encontros... externos e internos foi no que chegou a dinâmica proposta num acto colectivo. Conceito de Espaço foi o tema norteador e situcionalizador.
O processo educacional numa postura etnomatemática liberta-nos da hierarquia imposta na postura tradicional. Estou preparando um espaço na web para partilhar convosco as aulas e os portifólios digitias de cada aluno que estou desenvovendo. Sei que este material, trabalhado com eles, será de mais valia para todos... um produto libertário vindo de um processo participativo e construtivo dentro deste movimento de descobertas, de aprendizagens.
Depois deste AUÊ - ritual na chegada e partida do sol - sei que tenho muito mais a partilhar... mas aterro aqui... e deixo o sentir da janela que vivi!

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